Em Dia de Todos-os-Santos, não houve santo que valesse a António Sérgio. Cerca de 40 anos de serviços prestados nos megahertz associam-no à teimosia de acreditar que fazer "programas de autor" é um acto de rebeldia informativa num panorama de rádio de risos formatados.
Uma boa parte das pessoas recordará António Sérgio como a mais recente voz-off da SIC, o homem dos espaços "Som da Frente", "Hora do Lobo" e "Viriato 25". A minha melhor memória dele remonta aos anos 80 onde, com Gustavo Vidal, alimentava uma geração sedenta dos novos rumos que o Metal trilhava. Na rádio Comercial ao Sábado, ouvia a sua voz grave apresentar os recentes LPs de Candlemass, Venom, Possessed, bem como demos de bandas portuguesas. Outro episódio curioso que registei passou-se nos primeiros anos da SIC, num programa de entrevistas, penso, de Paula Moura Pinheiro. Passaram um tema de Napalm Death e perguntaram a António Sérgio se achava que "aquilo" era música, ao que respondeu - dando uma lição - em tom "tudo é música desde que saibamos apreciar".
Seguindo o exemplo de António Sérgio, talvez fosse o tempo de passar a premiar os criativos que ofereçam originalidade, independência e muita teimosia à rádio.
"excerto retirado do artigo de Sérgio Bastos no jornal Expresso"
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