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Após tratamento
Funciona dentro de uma caixa alta com uma pêndula longa
com cerca de 1 metro de comprimento
Mostrador em esmalte branco decorado no seu redor com motivos florais
os ponteiros em metal amarelo recortados tal como a imagem mostra.
A marca no mostrador é provavelmente do relojoeiro de Leiria que o vendeu.
Por vezes chegam assim neste estado lastimoso.
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A decisão de o comprar teve em conta apenas o facto de ter gostado da sua aparência e também porque me parecia que ele ficava bem numa parede de minha casa, há muito vazia e a precisar de ali colocar qualquer coisa.
Quando da negociação do preço, o comerciante do Porto, bem me disse que o valor pedido se justificava porque o mostrador de baixo tinha um calendário e que além disso era um Ithaca, e portanto “coisa” rara e valiosa, mas como sempre nestas coisas de compras e vendas, não lhe dei muita importância e lá acordamos num valor um pouco mais baixo e trouxe-o para casa, literalmente sem imaginar a aventura que ainda se iria viver. A regulação do calendário era, na opinião do nosso amigo comerciante do Porto “coisa muito fácil” e que se conseguia a partir de uma haste com uma argola situada na parte de cima da caixa do relógio. Uma demonstração de uns breves segundos - justificáveis porque a hora de encerramento da feira já tinha sido ultrapassada, lá me convenceram de que aquilo funcionaria com facilidade.
Pelas razões do mundo actual, o relógio ficou embrulhado no mesmo papel em que o comerciante do Porto o embrulhou, por uns tempos até que o Sr Rui tivesse ocasião para lhe dar “um jeitinho” e o pôr a trabalhar.
Lá esperei o tempo necessário para nos encontramos uma noite e ver o que havia para fazer, ser-lhe dado o tal “jeitinho” para o pôr a trabalhar e levá-lo para casa.
Nessa noite, decorrida mais de um mês depois da compra, lá nos enchemos de coragem e depois de desembrulhamos o dito começamos por tirar as costas do relógio e logo verificamos, com surpresa, que não só as madeiras tinham um pouco de caruncho, como o relógio tinha dois movimentos separados.
O caruncho – visitante sempre incómodo nas madeiras e muito mais num relógio, teria de ser eliminado por expurgo e para tal seria necessário retirar os movimentos. Quanto a estes, - o movimento de cima, era sem sombra de dúvidas respeitante ao relógio, mas o movimento de baixo era um mecanismo autónomo, complexo e algo estranho, ligado ao movimento de cima por duas hastes metálicas ajustadas por duas pequenas porcas. A fixação á estrutura de madeira era feita por quatro parafusos grosseiros, fáceis de retirar, mas o mesmo já não se poderia dizer das duas hastes que uma vez desapertadas teriam de ser novamente ajustadas se quiséssemos pôr o calendário a funcionar - e isso poderia não ser tão fácil, como afinal se veio a verificar.
Decidida a remoção dos dois movimentos - precedida pelo sim pelo não de algumas fotografias, o Sr. Rui iniciou a reparação da caixa de madeira, a limpeza dos polimentos exteriores aros de latão e ponteiros.
Montado o movimento do relógio e pendurado o pêndulo, que esse sim estava a funcionar, o Sr. Rui lá se iniciou a montar o movimento do calendário, comigo a assistir e daí a ouvir o “tic-tac” habitual foi um passo.
A verdadeira aventura começou com a montagem do movimento do calendário. Mas se os comandos de acerto do calendário eram tão simples - como afirmava o comerciante do Porto, para que seriam necessários tantas “cames” “ganchos“, “pinos“ e “rodas dentadas em forma de quadrado“ sem falar nas peças de latão com um formato tão estranho, e que constituíam aquele movimento? E os ponteiros dos dias do mês que depois de montados saltavam estranhamente quatro dias sem qualquer justificação? Nessa noite, que para mim terminou por volta das 2 da manhã, lá deixei o Sr. Rui a matutar naqueles mecanismos todos e a tentar obter respostas para a necessidade de tantos mecanismos e para que serviriam, se o acerto era tão fácil como me tinha dito o tal comerciante do Porto.
Até eu, que de relógios não percebia nada, que não fosse dar-lhes corda e admirar o seu balanço e roda de escape, uma invenção notável diga-se de passagem com imensas utilizações ainda hoje na industria automóvel, depois de muitas horas a puxar pela cabeça dava também a minha opinião - nem sempre aceite pelo Sr. Rui , quando, depois de muitas tentativas lá me decidi a fazer uma pesquisa na Net e, com surpresa ao fim dos milisegundos habituais, encontrei vários sites referentes ao que agora já poderei chamar do famoso Ithaca Calendar Clock. Um dos sites (http://www.antiqueclockspriceguide.com) e que permite aceder a uma das maiores bases de dados do mundo de relógios, fabricantes e marcas e depois de alguma pesquisa lá encontrei o meu relógio entre várias dezenas de modelos que tinham sido produzidos por aquela centenária marca e vendidos para toda a América e mundo durante cerca de 50 anos mais precisamente entre 1865 e 1917.
Espicaçada a curiosidade, lá fui de site em site até descobrir um, da autoria do Sr. John C. Losch de Holliston, Massasshutets, USA (jclosch@worldnet.att.net), que não só confirmava que o calendário era perpétuo como tinha tido sido inventado e registada a patente pelo Sr. Henry B. Horton em 1865.
Fiquei também a saber, com espanto meu que se tratava de uma marca de origem americana – que cessara a produção por falência em 1917, e que tinha produzido em massa um dos relógios de calendário perpétuo mais célebres e popularizados do mundo, com mais de 100 modelos, em que alguns – raros, tinham o calendário em Português, situação que tinha origem certamente nalguma encomenda de Portugueses, coisa que actualmente já raramente se faz, mesmo nos modelos de relógios de pulso mais caros. Este site apresentava uma descrição muito pormenorizada da história deste fabricante de relógio como também e felizmente para nós, uma descrição muito pormenorizada da forma de acertar o calendário, o que nos certamente nos facilitaria a vida. Rapidamente entro em contacto com o Sr John Losh e com a descrição do site, entretanto traduzida e as recomendações enviadas por mail fiquei convicto de que tinha o assunto resolvido.
Nada de mais errado!!! Quando tentávamos acertar o calendário com base nas recomendações do Sr John Losh, nada funcionava como ele afirmava no seu site e então no que respeita ao subtil acerto dos anos bissextos “a coisa não acertava mesmo”.